É muito comum se deparar com manifestações artísticas que provocam metáforas para reflexões sociais. Afinal, a arte é uma ferramenta fundamental para o processo de diminuição das desigualdades sociais e manutenção do sistema democrático.
Por conta disso, os artistas estão cada vez mais politicamente engajados e preocupados em unir arte e responsabilidade coletiva. É também por isso que muitas obras cinematográficas mergulham em questões sociais importantes e fortemente ligadas aos seus tempos atuais.
Quando Jane Fonda anunciou que Parasita foi eleito o melhor filme do ano na cerimônia do Oscar em 2020, muitas pessoas ficaram perplexas. Afinal, a academia jamais havia concedido esse prêmio a uma obra falada em um idioma diferente do inglês.
Além da sensibilidade artística e da qualidade técnica incontestáveis, o que fez Parasita ser aclamado foi a forma criativa com que Bong Joon-ho abordou a luta de classes em uma sociedade capitalista. O trabalho do sul-coreano foi tão elogiado que ele recebeu a estatueta de melhor diretor na mesma ocasião – superando os renomados Quentin Tarantino e Martin Scorsese.
Parasita é um filme tão original que vai ser muito difícil encontrar alguma história parecida por aí. Mas esta não foi a primeira vez que um filme que apresenta uma crítica social ganhou o mundo. Na verdade, histórias desse tipo costumam agradar o público por jogarem realidades de formas escancaradas (ainda que nas entrelinhas inteligentes) pelas telas.
Dois dos longas mais populares do Brasil, por exemplo, são justamente Tropa de Elite e Cidade de Deus, filmes que fazem claras denúncias às desigualdades sociais e ao sistema policial corrupto que assola o país.
E para quem quer refletir sobre outras injustiças sociais ainda muito vivas, além de conferir roteiros que foram capazes de ganhar diferentes corações, o NÃO ÓBVIO separou tramas instigantes e fora do clichê que provocam reflexões sociais importantes. Confira:
1. NISE: O CORAÇÃO DA LOUCURA
Quando a doutora Nise da Silveira deixa a prisão e volta a trabalhar no Hospital Psiquiátrico de Pedro II, localizado no subúrbio do Rio de Janeiro, ela se nega a continuar submetendo os pacientes a eletrochoques e lobotomia.
Como Nise não concorda com esses procedimentos, ela sugere que os pacientes sejam tratados através do amor, da arte e do convívio com animais de estimação. Mesmo sem a aprovação dos seus colegas, Nise não abre mão das suas convicções e vira pioneira da terapia ocupacional no país.
O filme é baseado no trabalho real que foi desempenhado pela médica psiquiátrica brasileira Nise da Silveira – a mulher que revolucionou a forma de se pensar e fazer tratamentos mentais no Brasil.
Apesar de fazer uma crítica às técnicas psiquiátricas brutais que se popularizaram no início da década de 1940, o longa provoca reflexões a respeito dos tempos atuais. Afinal de contas, as pessoas com problemas mentais continuam sendo colocadas à margem da sociedade e tratadas, na maior parte dos casos, com pouca empatia.
Além disso, Nise, na obra, pode representar a todos que desejam fazer algum tipo de revolução (seja na própria vida ou socialmente), mas que sentem que ainda não encontraram seu espaço.
☌ VEJA TAMBÉM: uma lista da coluna do NÃO ÓBVIO com cinebiografias pouco óbvias que vão dar gás aos seus objetivos.
☌ Onde assistir: Netflix
☌ Gênero: Drama
☌ Duração: 109min
☌ Lançamento: 2016
☌ Direção: Roberto Berliner
☌ Elenco: Glória Pires, Simone Mazzer, Julio Adrião, Cláudio Jaborandy
☌ Nacionalidade: Brasil
2. ERA UMA VEZ…
Dé mora na favela do Cantagalo, em Ipanema. Filho da empregada doméstica Bernadete e abandonado pelo pai, ele viu seu irmão Beto ser assassinado por um traficante e seu outro irmão, Carlão, ser exilado da favela pelos bandidos. Decidido a não seguir o caminho do crime, Dé trabalha vendendo cachorro-quente num quiosque da praia.
De lá da praia, ele observa Nina, filha única de uma família rica que mora na Vieira Souto, rua em frente à praia de Ipanema. Os dois se conhecem e acabam encantados um pelo outro. Porém, as diferenças entre seus mundos de origem geram diversas críticas e preconceitos velados.
Era Uma Vez é um retrato de diversas problemáticas sociais brasileiras unidas a uma trama intensa de um romance jovem que poderia encarar os mesmos bloqueios independente das idades.
O filme recria uma clássica história que, ao chegar ao final, pode ser relembrada por qualquer espectador. Ainda assim, em Era Uma Vez todo o sentido acaba sendo diferente.
☌ VEJA TAMBÉM: uma lista da coluna do NÃO ÓBVIO com filmes de romance totalmente fora dos clichês, como é o caso do aqui indicado.
☌ Gênero: Romance
☌ Duração: 1h56
☌ Lançamento: 2008
☌ Direção: Breno Silveira
☌ Elenco: Thiago Martins, Vitória Frate, Rocco Pitanga
☌ Nacionalidade: Brasileira
3. TEMPO DE MATAR
Em Tempo de Matar, dois homens brancos espancam e estrupam uma menina de dez anos na cidade de Canton, no estado norte-americano de Mississipi.
Como a sociedade acredita que a dupla é inocente, fica claro que eles vão apenas pagar uma fiança. Para evitar a impunidade desses criminosos, o pai da garota decide fazer justiça com as próprias mãos e mata os dois enquanto eles estão sendo levados para o tribunal.
Além de cometer o crime na frente de várias testemunhas, Carl Lee acaba ferindo um policial. Então, Carl é preso imediatamente e a cidade acaba sendo tomada por diversos conflitos por conta dessa situação.
O advogado Jake Tyler e a estudante de direito Ellen Roark ficam responsáveis por defender Carl da acusação de duplo homicídio. Mas além de precisarem articular uma estratégia de defesa, eles precisam lidar com as ameaças dos grupos racistas que não querem que eles ajudem Carl.
Tempo de Matar faz o espectador refletir a respeito de várias questões sociais importantes. Mas, sem dúvida, a maior crítica dessa trama diz respeito a relação entre o racismo e a seletividade penal.
☌ O NÃO ÓBVIO TAMBÉM INDICA: Olhos que Condenam (série, Netflix) e The People v. O. J. Simpson: American Crime Story (série, Netflix).
☌ Onde assistir: Prime Video
☌ Gênero: Drama
☌ Duração: 149min
☌ Lançamento: 1996
☌ Direção: Joel Schumacher
☌ Elenco: Matthew McConaughey, Sandra Bullock, Samuel L. Jackson
☌ Nacionalidade: Estados Unidos
4. TOMBOY
Quando Laure se muda com a sua família para uma nova vizinhança, e é confundida com um menino, ela resolve se apresentar como Mickaël.
Trata-se de uma menina de 10 anos que sempre gostou de manter o cabelo curto e vestir roupas masculinas, mas ainda está passando por um processo de reconhecimento da própria identidade.
Como a família de Laurel não sabe que ela se apresenta como um menino, a garota passa a levar uma vida dupla. Aos poucos, o espectador vai vendo que Mickaël provavelmente é um menino transsexual que faz de tudo para se encaixar no universo masculino.
Apesar da transexualidade ser um tema muito complexo, os conflitos que envolvem essa realidade são abordados com tanto primor que Tomboy acabou sendo premiado no Festival de Berlim.
A história de Mickaël faz o espectador refletir a respeito das dificuldades enfrentadas pelas pessoas trans e se questionar qual a importância do apoio da família durante esse processo.
☌ Onde assistir: Compre o DVD por R$ 29,95
☌ Gênero: Drama + Biográfico
☌ Duração: 82min
☌ Lançamento: 2011
☌ Direção: Céline Sciamma
☌ Elenco: Zoé Héran, Jeanne Disson, Malonn Lévana, Sophie Cattani
☌ Nacionalidade: França
5. CONSUMED – O QUE VOCÊ ESTÁ COMENDO?
Quando os esforços dos médicos para diagnosticar a doença de uma criança não chegam a lugar nenhum, a investigação de uma mãe desesperada vai até o universo dos alimentos geneticamente modificados.
Em Consumed, Sophia vai descobrir as atividades impróprias realizadas pela Clonestra. Mas apesar do roteiro ter apresentado uma marca ficcional, é evidente que o filme faz uma denúncia à Monsato – empresa multinacional de agricultura e biotecnologia.
Numa visão mais ampla, a principal crítica do filme recai sobre os processos produtivos inadequados que marcam a indústria alimentar no contexto capitalista. E, infelizmente, por mais que as pessoas tentem lutar contra o sistema, ele se mostra cada vez mais corrompido e fortalecido.
Por apresentar um tema extremamente polêmico, que envolve discussões políticas do mundo real, Consumed se quer foi amplamente divulgado na mídia. Talvez seja por isso que o filme não está presente nas plataformas de streaming disponíveis no Brasil.
No entanto, Consumed já fez parte do catálogo da Netflix e pode voltar para a plataforma a qualquer momento. Basta clicar neste link e ativar o lembrete que o longa aparecerá na sua lista assim que estiver disponível novamente. Mas se você não conseguir esperar, pode comprar o DVD na Amazon Americana.
☌ Onde assistir: Compre o DVD na Amazon Americana por U$ 11,87
☌ Gênero: Drama + Suspense
☌ Duração: 95min
☌ Lançamento: 2015
☌ Direção: Daryl Wein
☌ Elenco: Zoe Lister-Jones, Anthony Edwards, Victor Garber, Danny Glover
☌ Nacionalidade: Estados Unidos
6. A ESPOSA
Baseado no livro homônimo de Meg Wolitzer, A Esposa conta a história de Joan Castleman – uma mulher que é casada com um escritor extremamente controlador e egoísta que está prestes a ser consagrado com o Prêmio Nobel de literatura.
Por ter passado 40 anos se dedicando ao marido, que não sabe cuidar de si mesmo, Joan acabou negligenciando suas próprias vontades. Joan chegou a ignorar seus talentos e aspirações literárias justamente por achar que jamais seria reconhecida por ser uma mulher.
A principal reflexão trazida por esse filme é a triste realidade das mulheres que vivem às sombras de um homem e acabam se anulando completamente por conta de um relacionamento.
A atuação de Glenn Close é um dos pontos mais altos de A Esposa. A atriz ganhou o prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro, em 2018, e concorreu ao Oscar em 2019.
☌ Onde assistir: Telecine
☌ Gênero: Drama
☌ Duração: 100min
☌ Lançamento: 2018
☌ Direção: Björn Runge
☌ Elenco: Glenn Close, Jonathan Pryce, Max Irons, Christian Slater
☌ Nacionalidade: Estados Unidos + Reino Unido + Suécia
Esta lista foi pensada/criada em colaboração com Vanessa Brunt, editora-chefe do NÃO ÓBVIO.
