Bahia e música são dois substantivos indissociáveis. Na terra do dendê, se a superfície for plana, ela já serve de batuque. O carrinho de café, quase sempre, é uma versão reduzida de trio elétrico. Aliás, falando nele, não se pode esquecer do Carnaval soteropolitano. Ele dispensa apresentações. Nessa brincadeira, sobra até pro sotaque, que tem fama de “cantado”.
Não surpreende que grandes artistas nacionais – e mundiais – tenham nascido e crescido em território baiano. Os eternos Doces Bárbaros, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia que o digam. No entanto, não pense que só artistas consolidados e mega famosos têm vez no canto que vai além do axé. A fonte de talento não se esgota.
Com diferentes estilos musicais e caminhando pelo cenário alternativo, estes jovens artistas baianos chamam a atenção não apenas pelos seus talentos, mas também pelas formas singulares de comunicá-los.
Apesar de nas plataformas sociais eles já encantarem uma crescente de fãs, para a maior parte da população local e pelo resto do país, os nomes sendo feitos ainda acabam vistos como não óbvios. Então, fique por dentro e confira (sem ordem de preferências) as promessas da música baiana garimpadas pelo NÃO ÓBVIO:
1. Illy |@illy
MPB, samba, ijexá, salsa, bossa nova e rock n’roll. O primeiro disco da baiana Illy, intitulado Voo Longe e lançado em 2018, é um grande caldeirão inexplicável de ritmos. Para ter noção, só ouvindo.
No álbum de lançamento da cantora, além das composições próprias, ela interpreta obras escritas por Djavan, Arnaldo Antunes, Quito Ribeiro, Luciano Salvador e Chico César. Além disso, a faixa Sombra da Lua tem participação do artista Gerônimo.
A artista, inclusive, chegou a cantar ao lado de Caetano Veloso e abrir shows de Djavan e Gal Costa em 2018, até que foi nomeada, pelos próprios renomados, como uma das grandes promessas da MPB.
Há três anos, Illy, hoje com 30, se mudou para o Rio de Janeiro. Nascida na Baixa do Bonfim, a migração não afastou a cantora do seu estado natal. Basta acompanhar o perfil dela no Instagram (acima) para perceber que Illy vive na Bahia. Aliás, a baianidade é parte essencial do trabalho dela.
Nas letras poéticas, é possível encontrar metáforas que tratam de amores do passado ou relacionamentos presentes, além de passearem, com sensibilidade, por temas sociais que trazem referência aos Orixás, expressões baianas e da resiliência ao tratar de dores.
2. Hiran | @hiran
Se alguém parar para pensar nos grandes nomes do rap, nacional e internacional, vai perceber que há um denominador comum: são todos homens. Acessar esse espaço e mostrar que os gays também merecem estar na cena (e onde mais desejarem) era um dos maiores objetivos de Hiran. E ele o cumpriu com maestria.
Gay, negro, nascido no interior e rapper, MC Hiran saiu de Alagoinhas, município localizado a 116 quilômetros da capital baiana, para deixar o Brasil inteiro ciente que Tem Mana No Rap. Este é o nome do primeiro álbum do cantor, que se apresentou, no último dia 23, no Baile da Vogue, em São Paulo.
As letras de Hiran são completamente políticas. Através delas, o jovem reflete sobre pautas sociais, raciais e LGBTQ+. Apesar dos temas sérios, ele não abre mão da expressividade performática, o que só deixa o artista ainda mais completo e apaixonante.
3. Majur | @majur
Nome curto, voz fortíssima. Basta ouvir Majur cantar um único verso para sentir que a artista pode estremecer um prédio – ou dois. Achou exagero? Então pode comprovar:
Baiana e não-binária, a cantora de 23 anos que, assim como Hiran, se apresentou no Baile da Vogue, tem conquistado uma onda de pessoas com sua potente voz grave. Só no Spotify, são quase 30 mil ouvintes por mês. E olha que ela só tem três músicas próprias lançadas até então.
As canções integram seu EP de lançamento, intitulado Colorir, lançado em 2018. Porém, engana-se quem acredita que a trajetória de Majur é recente. Aos cinco anos, ela já fazia parte do coral da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador, realizando anualmente apresentações natalinas no Pelourinho.
As músicas de Majur falam sobre relações afetivas, empoderamento e narrativas negras. “Congo, agogô, meu banto / Pra salsar as almas do meu bando / Procedo à identidade”, canta ela, em Africaniei.
4. Clariana Fróes | @clarianaoficial
Já aconteceu de escutar um cover de alguma música que você ama e, em seguida, sentir vontade de arrancar os ouvidos de tanto desgosto? Se sim, saiba que se os vocais forem de Clariana Fróes, é bastante difícil que isso aconteça.
Aos 23 anos, a soteropolitana começou no mundo da música aos 13, em Porto Seguro, onde morava com a família. Ela também já teve uma banda, a EX-29, durante cinco anos. Mas a explosão de Clariana aconteceu quando a artista começou a fazer cover de Amy Winehouse. Os vídeos se espalharam e semelhança entre as duas – tanto no físico quanto na voz – chamou a atenção de muita gente.
Em 2013, a cantora participou da segunda edição do The Voice Brasil (TV Globo). Desde então, ela ganhou ainda mais visibilidade e criou o Amy ReggaeHouse, um tributo à cantora de soul que se apresenta no Brasil inteiro.
A artista começou a lançar também as canções próprias, indo para além dos covers (mas sem os abandonar). Com letras mais românticas e repletas de entrelinhas, a cantora passou a apresentar, inclusive, colaborações com outros nomes da música atual.