Se você é consumidor assíduo de audiovisual, certamente já se envolveu emocionalmente com alguma coisa que assistiu ao ponto de mudar imensamente um ponto de vista. Pode ser um filme, uma novela ou até um vídeo no YouTube. Não faltam por aí narrativas capazes de causar um impacto considerável na nossa vida.
E, se o produto audiovisual em questão for um documentário, as chances de ficarmos com grandes reflexões após terminar de assistir são ainda maiores. Afinal, o gênero, quase sempre, se caracteriza pelo compromisso de explorar a realidade como ela é, com dados e apurações surpreendentes.
Esta jornalista que vos fala, por exemplo, se tornou vegetariana logo após assistir ao primeiro documentário da lista: What The Health. Além disso, ainda houve o repensar de toda a relação com o mundo – e as pessoas que o habitam – após passar pouco mais de uma hora vendo outro integrante deste catálogo.
São inúmeros os temas que poderiam ser listados, mas a variedade aqui também não fica em falta. São documentários sobre o estilo de vida minimalista, sobre a crença nas energias e até sobre como lidar com temas tabus como a menstruação de outra forma. O mais bacana é que todos os indicados estão disponíveis na maior plataforma de streaming de filmes e séries. Confira a lista com os trailers e clique nos títulos para ir direto assistir na Netflix:
1. What The Health
Há milhares de anos não é novidade para ninguém que animais morrem para que os humanos possam comê-los. É exatamente por tal motivo que What The Health – traduzido como Que Raio de Saúde, em português – é um documentário tão interessante sobre o consumo de carnes e outros produtos de origem animal.
A produção não foca no sofrimento dos bichinhos, mas sim nas consequências da ingestão desses alimentos para a saúde e em como existem indústrias gigantescas por trás de informações duvidosas, como a necessidade do adulto em consumir leite, por exemplo.
Parece teoria conspiratória, mas não é – e os diretores do documentário, os norte-americanos Kip Andersen e Keegan Kuhn, apresentam provas quase irrefutáveis para isso.
Além das entrevistas com os médicos e especialistas ultra conceituados do mundo inteiro, a dupla investiga grandes corporações e descobre ligações suspeitas entre elas. Um exemplo? Cientificamente, a carne está diretamente ligada à incidência de diabetes. Em contrapartida, empresas produtoras de carne patrocinam instituições que ajudam no tratamento da doença. Curioso, não é?
O documentário foi lançado em 2017 e conta com aproximadamente 1h40 de duração.
2. Minimalism
Não é sobre ter apreço ao sistema capitalista, mas sobre como o utilizamos sabendo que precisamos de dinheiro para conseguir permanecer com dignidade. O Consumo Consciente, por exemplo, é prova viva de que o maior problema é o que é feito com o sistema, que poderia ser mais equilitário sem precisar de mudanças nas bases do formato.
Aqui, conquistas como casa própria, condições de investir em conhecimento e grana para viajar são o grande objeto de desejo de muitas pessoas. Quem tem, ajoelhe e agradeça por seus privilégios. E esse documentário, que fala sobre desapego das coisas materiais, não tenta desvalorizar isso.
Minimalism é sobre abnegação, mas, ao invés de demonizar conquistas financeiras, ele afirma que sim, tudo o que seu dinheiro pode comprar pode lhe fazer um pouco mais feliz. Mas, dentre todas essas coisas, do que você realmente precisa?
A produção discute o conceito chave – que é, resumidamente, viver com menos é viver com mais – e faz o espectador se questionar sobre suas escolhas no mundo. O termo também inclui a noção de uma dor menor no bolso, já que quem reutiliza produtos, acaba não comprando várias coisas parecidas e adquirindo o que dura mais (ainda que dure principalmente pela criatividade).
Com o que você escolhe gastar sua energia? E o seu tempo? Qual é a diferença entre apego, desejo e necessidade? Vale a pena assistir e tentar responder as questões.
O documentário foi lançado em 2018 e conta com aproximadamente 1h18 de duração.
3. The True Cost
Em 2013, um edifício chamado Rana Plaza desabou em Bangladesh. Exatos 1.127 mortos. Ali, funcionavam dezenas de fábricas têxteis clandestinas. No comando das máquinas, em sua maioria, mulheres e crianças. O trabalho era feito sem segurança, alimentação ou pausas. Jornadas exaustivas. O pagamento era simbólico – para não dizer figurativo. E o resultado desse trabalho escravo pode estar bem aí, dentro do seu guarda-roupa, pendurado no cabide.
Apesar do debate existir com mais força nos últimos anos, ainda se fala muito pouco sobre o lado explorador e sanguinário da moda. A produção consegue tocar nessa ferida de forma sagaz. Cada minuto do documentário traz diferentes reflexões não apenas sobre o sistema global da moda, mas sobre seu papel individual no fortalecimento dele.
Um dos pontos mais interessantes é que o projeto não foca apenas na produção serializada das lojas de departamento. Critica, também, os métodos da alta-costura, mostrando que a exploração se oculta para muito além da Zara e do AliExpress.
O projeto foi lançado em 2015 e tem 1h30 de duração.
4. Heal
Os good vibes do Instagram já sabem, sua mãe sempre te falou e, talvez, lá no fundo, você até se esforce para acreditar no tal do pensamento positivo. Aquela coisa de acreditar, torcer e encarar a situação como se, de fato, ela já estivesse 100% resolvida – ou, pelo menos, perto disso. Bacana. Mas e no tratamento de doenças, será que esse negócio de ficar só na torcida funciona mesmo?
De acordo com o documentário Heal, sim. Ele apresenta casos de pessoas que, supostamente, abdicaram do cuidado médico e decidiram se curar sozinhas, apenas com a força inabalável da positividade. Na produção, os resultados são satisfatórios e as pessoas terminam, de fato, curadas. A teoria que a narrativa sustenta é a de todos nós podemos controlar nosso corpo e mente muito mais do que fomos ensinados. A chave é só reencontrar essa autonomia perdida.
Apesar de termos críticas severas ao documentário e encararmos como um desserviço vender a ideia de que pessoas podem se curar por conta própria, não dá para negar que os argumentos utilizados e as justificativas são bem interessantes. É o tipo de coisa que você, ao terminar de assistir, precisa digerir. E, em seguida, começa a se questionar.
A nossa dica é que, ao assistir o documentário, que foi ao ar em 2017 e tem 1h46 de duração, haja a tentativa de não entendê-lo tão literalmente – pensando, na realidade, em como utilizar os ensinamentos sem precisar abrir mão de outros bons suportes quando o caso for a saúde. Afinal, para escolher é preciso renunciar, mas para optar é preciso primeiro viver e, para viver, é preciso abraçar alternativas. Concordamos que tudo o que tem honestidade, é válido.
5. Period. End of Sentence.
“Nojenta, suja, repulsiva”. Há quem atribua até características místicas pejorativas, dizendo que ela é um acontecimento quase sobrenatural. “Mulher é bicho do demônio mesmo, não é? Olha aí, sangra durante dias e não morre!”. Quando o assunto é menstruação, os comentários, frequentemente costumam ser assim, disparatados. E claro que, em 90% dos casos, eles partem de gente que sequer tem útero.
O grande objetivo do Absorvendo o Tabu, que venceu o Oscar neste ano, na categoria de Melhor Documentário de Curta-Metragem, é exatamente desmistificar a menstruação e falar o que deveria ser óbvio: ela, nada mais é do que um acontecimento natural do corpo feminino, que não impede as mulheres dos seus alcances ou capacidades.
O documentário pode ajudar para que, enxergando com maior naturalidade os acontecimentos do corpo feminino, mulheres tomem mais atitudes sem receios e homens respeitem melhor a fase, que não é um bicho de sete cabeças.
Lançado em 2018 e com apenas 26 minutos de duração, a produção consegue falar do tema de forma simples e, ao mesmo tempo, bem didática. Um pouquinho de lucidez aumenta a expectativa de vida, ouvimos dizer.