A época de crises e fechamentos de grandes livrarias pelo Brasil traz o alerta para uma fase de transformações no mercado literário. A Livraria Saraiva, por exemplo, encerrou o trabalho de mais de 20 lojas entre 2017 e 2018. Além de fechar uma das suas principais sedes no Rio de Janeiro, em julho de 2018, a Livraria Cultura demitiu centenas de funcionários.
“Desde a chegada da Amazon ao Brasil, em 2014, o e-commerce passou a atingir mais de 30% dos clientes que antes preferiam as compras através do varejo tradicional”, afirma o presidente da Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), Marcos da Veiga. Em meio à problemática, a Saraiva pretende ampliar a porcentagem do comércio eletrônico em 70% nos próximos cinco anos.
ELAS ESTÃO DE PÉ
Enquanto o comércio literário nacional de destaque passa pela adaptação que engloba um cenário mais eletrônico, pequenas livrarias soteropolitanas utilizam de movimentos sociais com firmeza para se manterem de pé e, assim o fazem, mantendo as suas lojas físicas com diferenciais: como é o caso das vendas em nichos (focando em obras com temas específicos) ou de livros de pequenas editoras e autores independentes, principalmente regionais, que elas apresentam (e que não ocorrem nas chamadas de ‘grandes livrarias’).
“Temos alguns espaços especiais aqui na livraria. Neles, colocamos apenas autores independentes (que lançaram suas obras sem editoras) ou de editoras menores, que não conseguem ainda fazer distribuição para algumas das grandes livrarias. Focamos, principalmente, em autores baianos, para que o público possa conhecer mais da própria literatura contemporânea”, pontua Valdo Reis, 60, coordenador de atendimento da Livraria Leitura, a de maior porte que compõe a listagem apresentada no final desta matéria.
Para Marcos Marinho, 71, dono da Jhana Livros (uma das livrarias que também completa a lista do final desta matéria), o que mantém o mercado livreiro de pé, atualmente, são as pequenas livrarias:
“Saraiva e Cultura estão em recuperação judicial e, nós, que trabalhamos com nichos e pequenas editoras (que produzem pequenas tiragens de livros), nos mantemos de pé por essa forma diferente de trabalhar”, explica, lembrando que 80% das livrarias independentes de Salvador fecharam as portas entre 2016 e 2018.
“Ainda existe muito preconceito com autores independentes, mas precisam lembrar que as editoras não estão recusando hoje por falta de talento, mas porque o mercado mudou e já quer um autor de sucesso desde o início”, conclui.
O editor baiano Gustavo Felicíssimo, dono da editora editora baiana Mondrongo e autor de cinco livros, explica o motivo de editoras de porte pequeno não distribuírem livros para grandes livrarias:
“Elas (as grandes livrarias) precisam lucrar, não estão erradas. O custo para enviar obras para as grandes livrarias é alto e, além disso, as livrarias cobram 50% em cima da venda de cada exemplar. É um universo complicado e editoras que visam trabalhar com essa distribuição precisam lucros mais certeiros e maiores para lidar os gastos dessas distribuições. Por isso, inclusive, buscam youtubers bombados, por exemplo”, explica o editor.
AS RARIDADES CONTEMPORÂNEAS
Em uma época em que as redes sociais deixam novos talentos à disposição da sociedade como nunca antes, o (novo) mercado tradicional da literatura brasileira, para alguns, parece não valorizar ‘a caça aos desconhecidos’ e, até, não ter mais nada a ver com a busca por talentos. O processo agora é inverso. Para um autor fechar um contrato com uma grande editora, é preciso unir uma vasta gama de leitores primeiro para, após, ter a chance da publicação.
Quando um autor não chama a atenção pelos números, realizar o sonho do livro físico é sinônimo de ter que desembolsar uma quantia que, em geral, é de alto custo. Esse é o formato de editoras médias, que abrem maior espaço para escritores que ainda não ganharam um grande destaque nas mídias digitais e levam as obras para as grandes livrarias. Muitos desses autores, porém, acabam optando pela chance de poucos gastos, lançando com editoras menores ou de forma independente, sempre com pequenas tiragens dos livros, o que torna as obras ainda mais raras.
“O problema é que o cenário literário baiano não costuma ser muito valorizado na própria Bahia”, afirma Matheus Peleteiro, 23, autor que acumula cinco livros no currículo e vem ganhando destaque nacional. Peleteiro pontua que essa é uma das dificuldades para que os autores locais ganhem mais espaço nas redes e, consequentemente, possam crescer o suficiente para grandes editoras e livrarias.
É servindo como espaço para apresentar autores como Matheus e Maria Luiza Maia, 23, que começou de forma independente, que algumas livrarias de Salvador ganham maior sustento, misturando as vendas das obras independentes com as cafeterias próprias, eventos fixos, feiras locais e outros projetos.
“Nós fechamos uma porcentagem de divisão dos lucros com essas livrarias e vamos levando pequenas tiragens dos livros. Um autor sem editora não consegue levar o seu livro para grandes livrarias. É muito burocrático. Com livrarias menores, o processo também é complexo demais. Fica mais simples para os autores ter esse contato com essas outras livrarias locais e isso nos leva a diferentes cantos da cidade”, conta Maria Luiza Maia, que hoje está com a editora Mondrongo.
Conheça livrarias de Salvador que são ativas nas redes sociais (elas dão várias dicas!) e que disponibilizam obras de autores independentes ou de editoras menores:
1. Porto dos Livros
Música, poesia, teatro e diversas expressões artísticas são mescladas no Porto dos Livros, sebo que, criado pelos irmãos publicitários Carla e Lucio Urbanetto, é espaço multiuso desde 2016. “Nossa missão é promover o encontro das artes. Nós temos desde livros acessíveis para incentivar a leitura até um espaço de reunião dos artistas”, conta Carla.
Em meio às janelas que trazem a vista para o Porto da Barra, um dos principais cartões postais de Salvador, o espaço disponibiliza mais de 15 mil livros, revistas, discos de vinil, CDs e DVDs. O local, porém, recebe não apenas quem deseja adquirir livros, mas também quem está buscando um canto para estudar, trabalhar, fazer uma reunião ou tomar um café.
Com uma vasta programação artística e cultural, o Porto inclui com constância shows de cantores do cenário baiano, assim como o Sarau do Porto, evento que acontece quinzenalmente aos domingos reunindo artistas independentes interessados em mostrar seus trabalhos. Além dos eventos, ainda são inclusas outras atividades como aulas de yoga e teatro (em horários alternativos).
Foto: Reprodução/Instagram
☌ Instagram: @portodoslivros
☌ Endereço: Av. Sete de Setembro, 3564, Porto da Barra
☌ Horário de funcionamento: De Terça a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h;
domingo, quinzenalmente, às 17h: para o sarau
☌ Telefone: (71) 3015-0093
2. Boto Cor de Rosa
A Boto é um projeto cultural itinerante. Atuando em Salvador desde 2015, seu propósito é lidar com vários aspectos do fazer literário e trazer os leitores para mais perto da literatura contemporânea. De acordo com uma das criadoras, Sarah Rebecca Kersley, a linha curatorial do projeto tem a diversidade como foco.
A iniciativa conta com uma livraria física, que durante alguns anos funcionava em um espaço fixo e que atualmente funciona levando livros para feiras e eventos, além de ter um stand diário na Gambiarra – Espaço Criativo e Coletivo, na Barra.
Cada stand da Boto apresenta uma seleção especial de publicações de diversas editoras brasileiras, trazendo literatura e pensamento contemporâneo com destaque para poesia, livros infantis, e livros com temática de áreas como gênero e sexualidade, etnia, ciência política, antropologia e estudos culturais.
As oficinas de criação literária e o selo editorial paraLeLo13S são outros eixos da Boto. O selo iniciou suas publicações em 2017, tendo editado, até o momento, 7 livros, incluindo os gêneros de poesia, contos, crônicas e ensaios críticos, com mais títulos sendo preparados para sair no catálogo em 2019. Paralelo13S evoca a linha da latitude no 13° grau a sul do plano equatorial que, como a livraria da Boto como um todo, cruza e mergulha pela cidade de Salvador.
☌ Instagram: @livrariabotocorderosa
☌ Endereço: Gambiarra – Espaço Criativo e Coletivo: Rua Afonso Celso, 277, Barra | Participação em feiras diversas pela cidade (acompanhar pelo Instagram)
☌ Horário de funcionamento: Todos os dias da semana, das 10h às 22h
☌ Telefone: (71) 98647-7489
3. Livraria LDM
A LDM foi fundada em 1992, com o intuito de ser uma livraria de rua. De início, funcionava em uma pequena casa na Rua Direita da Piedade e, após alguns anos, chegou a um grande casarão, na mesma rua, onde permaneceu por mais de 10 anos. O ponto, inclusive, ficou conhecido e frequentado por autores baianos como Mayrant Galo, Carlos Barbosa, Lima Trindade, Ruy Espinheira Filho, Mônica Menezes e Aurélio Schommer.
“Sempre fomos uma livraria amiga dos escritores baianos, sejam eles com publicações independentes ou por editoras”, conta Luana Maldonado, representante da LDM.
O acervo da LDM, no entanto, vai para muito além dos livros do mercado editorial nacional e também inclui livros internacionais e mais populares no mercado literário.
“Não esquecemos, porém, dos autores locais e/ou de editoras menores, como a Pólen Livros, a Kapulana, a Arché, Nandyala, Malê, Carochinha, Letramento, Nós, Arcádia, Todavia e Pimenta Malagueta”, conclui Luana, ainda deixando a dica: “Aqui, temos livros da literatura infantil também, de autoras como Nairzinha, Emília Nunez, Renata Fernandes e Ana Paula Mira”.
☌ Instagram: @livrarialdm
☌ Endereço: Shopping Paseo (Rua Rubens Guelli, 135 – Itaigara)
| Espaço Itaú de Cinemas Glauber Rocha (Praça Castro Alves, s/n – Centro)
| Espaço de rua em Brotas (informe-se pelo telefone)
☌ Horário de funcionamento: Funcionamento condizente com horários fixos do shopping (das 9h às 21h; domingo, das 12h às 19h) e do Glauber (verficar:3011-4706)
☌ Telefone: (71) 3012-6741
4. Livraria Leitura
Inaugurada em 1967 na Galeria do Ouvidor em Belo Horizonte vendendo livros novos e usados, a Livraria Leitura foi uma das primeiras do Brasil no conceito megastore, que consiste em lojas acima de 1.000 m² e grande variedade de produtos de cultura e entretenimento. Líder de mercado no ramo de livrarias em Minas Gerais, Centro-Oeste, Paraíba, Alagoas e Maranhão, a Leitura adotou uma audaciosa política de expansão que a colocou entre as maiores redes do Brasil.
Em 2017 a Livraria Leitura ganhou o prêmio Top of Mind de Minas Gerais, realizado pela revista Mercado Comum, na categoria livraria e papelaria com 79,3% de lembrança do público.
As megastores oferecem variedade de produtos, chegando a 100 mil itens entre livros, revistas, filmes, música, games, informática, papelaria, jogos e presentes. Assim como em todas as sedes, na capital baiana o local conta com espaços de entretenimento como cafés, ambientes para leitura, sessões de autógrafos e eventos culturais.
Apesar de ter cunho e reconhecimento nacional, aderindo também obras diversas de todo o mundo, a livraria Leitura, em Salvador, visa a disseminação das obras de autores independentes e regionais como um dos seus principais aspectos. Assim, o ambiente conta sempre com espaços separados para a divulgação e disponibilização das obras de editoras menores e/ou de autores locais que publicam por conta própria. Os eventos também abrem portas para receber autores baianos e editoras de menores portes.
☌ Instagram: @leiturasalvador
☌ Endereço: Shopping Bela Vista (Alameda Euvaldo Luz, 92 – Horto Bela Vista) | Shopping Salvador Norte (BA-526, 305 – São Cristóvão)
☌ Horário de funcionamento: Funcionamento condizente com horários fixos dos shoppings
☌ Telefone: (71) 3431-5218
5. Jhana Livros
Editoras soteropolitanas e autores independentes ganham diversos espaços nas estantes da Jhana, que tem feito diferentes tipos de parcerias com os autores, fazendo, assim, a inclusão de 50% de desconto em diversas dessas obras.
Elogiada pela variedade de gêneros dos livros, os focos das linhas editoriais do local ficam para: Nova Ciência; Religiões; Psicologia ; Mitologia; Filosofia; Educação; Holismo; Esoterismo; Literatura Clássica; Literatura Contemporânea; e Literatura Infantil.
☌ Instagram: @jhanalivros9
☌ Endereço: Boulevard 161 (R. Anísio Teixeira, 161, Pituba)
☌ Horário de funcionamento: De segunda-feira a sábado, das 9h às 19h
☌ Telefone: (71) 3358-7416
6. 3º Milênio
Livraria de autoconhecimento, espiritualidade, palestras, cursos e atendimento. Assim é descrita a 3º Milênio, que também inclui obras sobre oráculos, astrologia, runas, cabala e física quântica. Autores regionais e independentes que lançaram obras adentradas em temáticas como a psicologia, também são inclusos.
Além dos livros, o espaço realiza palestras, workshops, massagens, consultas de tarot e meditações. O local conta, ainda, com uma cantina que serve refeições vegetarianas e lanches como pastéis de forno e quiches.
Edilson Mário, 40, funcionar há 22 anos da livraria, conta que vários dos autores independentes aderidos pela 3º Milênio, tratam de obras de outros autores conhecidos, como Osho. “É claro que existem diversos temas e que os autores locais trazem um enriquecimento variado para a psicologia e outros conteúdos, mas é bacana observar como vários deles ‘conversam’ também com outros autores já mais conhecidos pelo público”, afirma.
☌ Instagram: @terceiromilenio
☌ Endereço: R. Macaúbas, 28, Rio Vermelho
☌ Horário de funcionamento: De segunda-feira a sábado, das 9h às 18h
☌ Telefone: (71) 3240-4444
